7 de out. de 2009

Memórias esquecidas e o tempo


O tempo passa tão lento e certo. Nada o detém.
E nele, contidas as nossas memórias, passamos também.

Houve um tempo em que acreditei que minhas lembranças iam permanecer para sempre, gravadas tão fundo, dentro de mim.
Protegidas
.

E eu saberia quem sou.

Eu saberia onde me encontrar quando estivesse perdida, quando não soubesse mais quem sou eu.

Por que eu estaria lá guardada e tudo aquilo que me fez ser assim.
Todas as pessoas que eu amo e são tão importantes, todos lá preservados para o sempre tão eterno.

Mas tão inclemente, o tempo nublou minhas memórias, roubou de mim a nitidez do rosto, o cheiro da pele, a clareza da voz... embotoou tudo e já não sou mais capaz de lembrar.
Faço força, penso e tento, mas não sou boa o bastante e fracasso.

O tempo está apagando os contornos de minhas lembranças
.

As boas e as não tão boas.

As ruins e as insuportávies.

Todas elas roubadas de mim
.

Passo momentos inteiros tento recuperá-las para mim.
É um exercício doloroso [um sentimento de perda, de fracasso] tentar desenterrá-las, ressucitá-las, afinal elas ja se foram e não posso mais dar-lhes vida.

Todas mortas como meu passado...

Houve um tempo em que acreditei na intensidade daquilo que vivia, nas marcas que me deixou, mas até mesmo isso está se perdendo.

Não consigo mais sentir
.

As palavras, os sons, os cheiros... é preciso tanto empenho para traze-los de volta!

É preciso coloca-los em um contexto e ainda assim não tenho a certeza de que o que me volta é real.
Tão nublados!

Já não dói mais e até isso me faz falta.
O tempo levou isso de mim também.

Eu fico pensando nas promessas que te fiz, de nunca te esquecer.
Estou quebrando todas.

Mas ali, naquele momento, eu juro, acreditei no poder de minha promessa, no poder de recordar sempre.
Acreditei no poder de manter em mim aquele momento vivo, aquela dor.
E você, através de mim,viveria para sempre.

E agora estou perdendo minhas lembranças.

Estou perdendo você.

O tempo cura tudo. Todas as dores, todas as feridas...

Não imaginei que era apagando que elas seriam saradas.

Eu as preferia mil vezes a deixar de lembrar.

Porque não lembrar dói muito mais.

E é por isso que escrevo. Hoje menos que antes, mas ainda assim escrevo para manter vivas em mim as lembranças que não quero esquecer.
Porque não quero me tranformar em um recepitáculo vazio e sem alma.

Porque não quero deixar morrer as memórias que eu tenho de você.

Eu não quero quebrar minhas promessas.

E eu não quero esquecer você.

Não como já esqueci sua voz e seu cheiro.

Não como esqueci o modo como falava ou se brigava ou brincava comigo.
Eu não quero esquecer de mais momentos nossos que me trouxeram onde estou, me transformaram em quem sou.

Eu não quero esquecer você!

Por que eu não me lembro de ser criança.
E não lembro de ter crescido...

Não sei como cheguei até aqui.
O tempo me roubou isso também.

Enevoando tudo, desbotando as cores das minhas lembranças e agora tudo me parece irreal. O tempo roubou minhas recordações. Me tirou o último vestígio que tinha de você.
A ligação que eu tinha com quem eu era.

Eu sinto muito.

Eu estou esquecendo.

1 comentários:

Anônimo disse...

NÃO É ATOA QUE DIZEM QUE O TEMPO TUDO CURA.

SEI-O BEM, JÁ VIVI...

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